segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Que pensar dos rankings das escolas?


“Em geral, repito, em geral, uma escola é tanto melhor (1.º) quanto mais dinheiro tiver; (2.º) quanto mais capacidade tiver para escolher quem admite e quem não admite; (3.º) quanto mais ricos forem os pais das crianças; (4.º) quanto melhor for a "educação" dos pais das crianças; (5.º) quanto mais dedicadamente a família se interessar pelo comportamento académico das crianças; (6.º) quanto mais família e crianças "quiserem" e "esperarem" da escola (carreira, estatuto, promoção social); (7.º) quanto mais perto estiver dos centros de "cultura" (no litoral, em vez do interior, por exemplo); (8.º) quanto melhores professores conseguir contratar; e (9.º) quanto melhor equipamento e instalações conseguir comprar. Por voltas que se dêem, e muitas se deram e tornaram a dar, a qualidade da escola depende disto.
Sendo as coisas como são, ninguém precisa de ser um génio para perceber: 1.º que o ensino privado será sempre superior ao ensino do Estado; 2.º que dificilmente o ensino pode criar igualdade social. Ou, por outras palavras, ninguém precisa de ser um génio para perceber que o sistema de ensino tende a "reproduzir" e não a "corrigir" a hierarquia social.”
Vasco Pulido Valente – 03/11/2007
 

CURIOSAMENTE, A ANÁLISE DOS RESULTADOS E DOS respectivos rankings não gera um argumento convincente muito favorável ao ensino privado. Na verdade, aquilo que seria de esperar era uma vantagem esmagadora dos estabelecimentos privados. Têm menos alunos, seleccionam e escolhem os seus alunos e as respectivas famílias, recebem em média entre 300? e 600? de propinas por mês e por aluno, seleccionam e despedem livremente os seus professores, situam-se geralmente nas áreas geográficas e sociais onde há classes médias e pais instruídos, possuem melhores edifícios, oferecem mais actividades artísticas e culturais, funcionam com horários alargados, asseguram mais estabilidade do corpo docente e os seus alunos alimentam-se melhor e deslocam-se com mais conforto. Ora, apesar de todas estas vantagens, o ensino privado só é marginalmente melhor do que o público. As escolas privadas são largamente maioritárias nos dez ou quinze primeiros lugares das várias classificações possíveis, mas, desde que olhamos para o panorama de conjunto, as escolas públicas obtêm resultados muito mais interessantes. E a mediocridade também surge profusamente nas escolas privadas.

O QUE SURPREENDE, nestes resultados e nestes rankings, é o grande número de escolas públicas nos primeiros 50 ou 100 lugares. Em certos casos, segundo as disciplinas e os métodos utilizados, as escolas públicas podem representar mais de 50 por cento das escolas classificadas nos primeiros cinquenta lugares. Surpreendente também é o grande número de escolas privadas nos últimos lugares. Igualmente relevante é o facto de, entre as escolas que mais progrediram nos últimos anos, as que sobressaem são, em proporções iguais, privadas e públicas. Mais: para as principais oito disciplinas do secundário, as diferenças de médias nacionais entre as escolas públicas e privadas são quase marginais. As privadas têm melhores médias em quase todas as disciplinas (nem sequer em todas), mas as diferenças medem-se em décimas, quase nunca num ponto (num total de 20). As diferenças entre médias internas e resultados dos exames, um dos pontos negros destas avaliações, são geralmente tão grandes e visíveis nas escolas privadas como nas públicas. Em três disciplinas, Biologia, Física e História, as médias nacionais são negativas, o que é realmente desastroso. Ora, estas médias são negativas tanto nas escolas privadas como nas públicas!
António Barreto – 04/11/2007 - Público

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